Mulheres, esportes e feminismo
Danielle Pinto. Cume Morro do Camelo. Vale do Cercado Chapada Diamantina – BA
Pode ser que eu caia na redundância ou até mesmo entre em assuntos polêmicos, porém não consigo deixar de pensar, que o fato de hoje a mulher ser presença marcante no cenário dos esportes de aventura é resultado da luta do movimento feminista.
O feminismo busca, e por algumas vezes também luta, para que a mulher possa ser e fazer o que ela achar que deve. Para que não existam regras sociais, leis ou imposição religiosa que digam o que a mulher deve ser, fazer, vestir ou falar. E quando ficar em casa servindo a família deixou de ser imposição para ser opção na vida de uma mulher, muitas coisas começaram a acontecer. Mulheres que desejavam subir montanhas, assim o fizeram. Aquelas outras que sonhavam em cruzar os oceanos também alçaram velas. E tantas outras foram correr e pedalar até levarem seus corpos a superarem seus limites físicos e mentais. Se hoje o tema é a presença das mulheres nos esportes de aventura, é porque outras mulheres que antes aqui estiveram lutarem por este espaço. Espaço que hoje ocupamos com vontade e presença. Afirmo isto pelo que eu observo nos ambientes de montanha e escalada. E se quando eu comecei a escalar, há 16 anos atrás, já existia sim essa presença da mulher, hoje algumas vezes nós somos maioria. Também observo os pelotões de bikers que circulam pela Serra da Mantiqueira, é comum ver grupos de quatro, cinco, seis mulheres pedalando. Na atualidade muitas vivem a prática esportiva profissionalmente. Para sair um pouco da montanha, vou citar duas que eu sou fã e me representam: a surfista de ondas grandes Maya Gabeira e Karol Meyer, mergulhadora de apneia, recordista mundial. Essa presença feminina tá aí, é muito fácil de perceber. E então porque ficamos falando deste mesmo assunto, e até tema de matéria de jornal vira?
Estamos vivendo uma mudança acelerada nos padrões de comportamento feminino. Pergunte para a sua avó qual era o esporte que ela praticava? Mulher praticando esporte ainda é novidade. A primeira participação feminina em uma Olimpíada aconteceu em 1900, e apenas em duas modalidades, golfe e tênis. No Brasil, após algumas mulheres terem se arriscado nos campos de futebol, em 1941 foi baixado um decreto para coibir a prática esportiva para as mulheres. “Às mulheres não se permitirá a prática de desportos incompatíveis com as condições de sua natureza, devendo, para este efeito, o CND baixar as necessárias instruções às entidades desportivas do país”, Decreto-Lei 3.199 do Conselho Nacional de Desportos. E porque existiram movimentos feministas e esportistas apaixonadas, em 1991 aconteceu a primeira Copa do Mundo Feminina de Futebol. E pasmem, apenas em 2012 as mulheres passaram a disputar todas as categorias nas Olimpíadas.
Para finalizar gostaria de frisar que estamos falando aqui de uma realidade privilegiada. Muitas mulheres ainda não têm acesso à prática esportiva, seja por privação financeira ou imposição cultural e social. Proponho que você, que pode desfrutar dos benefícios dos esportes de aventura, seja uma facilitadora na vida de outra mulher que ainda não pode viver essa experiência. Porque juntas somos mais fortes.
Este texto foi escrito pela escaladora Danielle Pinto. Você pode acompanhar o trabalho dela pelo Instagram/@Dani_na_montanha e através do seu site www.imaginate.com.br.
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