André Berezoski abre nova linha em São Bento do Sapucaí
No dia 17 de novembro fui agraciado com a cadena de mais um lindo projeto em São Bento do Sapucaí. E mais que uma grande linha, com uma proposta de alta dificuldade, a realização deste projeto veio a confirmar sobre os incríveis “momentos” que a escalada pode nos proporcionar.
“Momentos” é o tema de minhas palestras e apresentações em festivais de escalada, centros educacionais ou eventos sobre minha trajetória no esporte. Esta feliz realização vem a somar mais um excelente exemplo sobre os tais “momentos”.
Essa linha desde o início mostrou que poderia vir a ser uma das linhas mais duras da região, com uma inclinação forte e movimentação bem explosiva, de pés quase inexistentes para o ângulo, e um boulder de apenas oito movimentos.
De qualquer forma, os trabalhos seguiam normalmente como em qualquer outra linha e, aos poucos, os movimentos e sequências começaram a se tornar mais claros e motivantes. Mas até aí longe da cadena, pois a cada movimento o boulder vai ficando mais duro, e a consciência de que ter paciência, trabalhar insistentemente na linha ou um treino específico seriam os únicos caminhos e que algum dia ela aconteceria, fosse pra mim ou para outro escalador.
Quando tudo parece dar errado…
E eis que uma tempestade com granizo do tamanho de laranjas nunca vista em São Bento faz um estrago surreal por toda a cidade. O nosso espaço de escalada, o BBloc, é atingido destruindo todo o telhado, inundando colchões e alagando todas as áreas de escalada.
Mas é incrível como as coisas podem acontecer. Este mega evento da natureza, aliado a mais um dos inúmeros retornos à escalada após lesões no ombro e dedo, trabalho com as ressolas e montagem de vias na Casa de Pedra acelerados por conta do fim do ano, tudo isso conspirava para que a cadena do boulder fosse adiada por sabe Deus quanto tempo, ou até mesmo se fosse acontecer.
E eis que o tal “Momento” entra em cena: superaborrecido pelos acontecimentos, sem pregar o olho a noite inteira, e com a sensação de impotência por não poder fazer mais nada durante dias para começar a secar tudo, a melhor alternativa foi reunir os parceiros do climb, Carlera, Lello e Pardal e ir para mais uma investida no boulder para pelo menos esfriar a cabeça, tocar na rocha, e tentar desviar o foco diante de tantos problemas.
A cadena
E a presença deles foi fundamental pela energia transmitida do “clube dos 30/40”, e uma vez que estou anos-luz da antiga boa forma física da época das competições, foram fundamentais a experiência e saber valorizar cada momento na rocha.
O resultado deste “momento” foi a cadena do “70 e tal”, um possível V13. Nada melhor para remotivar um escalador à beira dos 40 e poder colocar este exemplo também como mais uma feliz experiência que a escalada pode nos proporcionar. Muitas vezes a ansiedade em alcançar a cadena de uma linha pode mascarar um real estado físico, o ajuste de detalhes e estender por muito mais tempo que realmente seria necessário.
Ao se desconectar desta pressão do “ter que mandar”, “quero mandar” ou “preciso mandar”, a coisa acaba acontecendo como um passe de mágica, simplesmente a escalada flui naturalmente, com o mínimo esforço necessário, e com uma leveza absoluta, como se um piano fosse retirado das costas, e o corpo e a mente se alinham para uma escalada perfeita.
O nome do Boulder “70 e Tal” se refere obviamente pela década de nascimento do clube dos 30/40 de São Bento, que vem deixando excelentes “pérolas” para a região, por tentar e tentar, e quando achar que está difícil “Se tenta” mais uma vez. E também por lembrar da melhor década musical, inspirando novas descobertas de linhas realmente lindas e com a melhor essência da modalidade do boulder.
A linha sempre esteve evidente no caminho do setor Monjolinho, a cinco metros do carro e o bloco mais perto da cidade (apenas 4 minutos), muito negativo, talvez por isso afastou as visitas até então, mas bastou um olhar mais motivado pela busca de novos desafios que o bloco nos presenteou com mais esta incrível linha.
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